Cecília Donateli (Brasil, 1989) é graduada em Direito, mas escreve poemas. Publicou em revistas e plataformas web como Garupa, Enfermaria 6 e Flanzine.
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Por vezes abro os olhos em um lugar onde os rios não correm
Guardam-lhe o pórtico uns monstros que falam dos touros de outrora e um amor bonito, levando à boca ossos, chás de tília – é tão típico do amor o viço dos ritos Não é de todo ruim este lugar Falam-me de Flores, o que deixa a gente meio rompido, falam-me da infinita honradez do Deserto, em quantas línguas eu lhe disse da areia que faz o gume da guilhotina? O nosso ódio capaz de rasgar uns guardanapos. Os alecrins acontecendo etc. Falam-me dos santos e da crença na revolução – eu que há muito tempo só acredito na devoção das balestilhas e das mulheres que cantam descalças De repente pode ser que tenham razão E se não tiverem Por vezes abro os olhos neste lugar O espaço estropiado de suas origens: eu fiz buracos na parede para entrar o capricho longínquo de um Desaparecimento se navegar muito perto da luz fosse algo doce, teria tido dias de pirata coriscando a vida e isso teria distendido uns tantos terminais das coisas das quais se pode perder o corpo encontram-se aí, imbuídas de resignação, uma ilha dentro de uma ilha, os tubarões a república e umas alergias se saio de casa às vezes parece um espírito devant l'océan sous la falaise e outras vezes parece os pés marcados de morte de Robert Capa pisando quantas vezes na bomba são quase nove os planetas que giram à volta, mas eu acho que uma hora acaba P&B 400 Foi em um dia de julho próximo à Caieira Velha Cabia tomar notas do pouso das ondas, assim domando um leão e outro leão
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trazendo sais, espelhos, os proêmios
de um naufrágio, a primeira lei de Newton, dentes de peroás, notícias suas |